segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A honra de ser escolhido


Tenho vários amigos que torcem para outros times. Pessoal gente fina, a quem só desejo tudo de bom. E o que mais lamento por eles é que nunca saberão a alegria profunda que é ser são-paulino.

Somos rotineiramente qualificados como "arrogantes", "presunçosos", "insuportáveis". Tratamos nosso clube do coração como uma entidade superior, maior que a vida e muito superior aos rivais. E por quê? Por uma razão muito
simples: porque ganhamos mais que os outros. Mais, não. Muito mais.

Isso é arrogância? De jeito nenhum. Muito pelo contrário. O São Paulo Futebol Clube ganha mais justamente porque sabe perder. Diferentemente do que ocorre com clubes rivais, as derrotas não desestabilizam. Pode um ou outro dirigente ou torcedor perder a cabeça, mas a estrutura preserva o clube, que logo está de pé novamente, apto a vencer mais uma vez. Por saber perder, ganhamos mais.

Não tem confronto de torcida com treinador em aeroporto, não tem muro pichado, não tem agressão a jogador. Não tem salário atrasado, não tem estádio arrendado a empresa, não tem time a serviço de agentes de jogadores e supostos "parceiros".

Tem profissionalismo, estabilidade e competência. Tem espírito de equipe e admiração pelo clube. Sendo todo o resto igual, não há como um jogador preterir o São Paulo FC em favor de outro time do Brasil. Claro, há times que oferecem a jogadores ou treinadores caminhões de dinheiro para suplantar essa deficiência, e o resultado aparece em dois ou três anos -- já tem time por aí, que se diz hoje vitorioso, e está a caminho do rebaixamento.

Mas não o São Paulo FC. Aqui, tivemos uma bênção nos primórdios da nossa
história: o time, fundado em 1930, faliu em 1935, e teve de ser refundado.
Essa experiência traumática permitiu que uma mentalidade gerencial de qualidade se instalasse no Tricolor, desde o (re)início. O clube ficou ciente de que precisava investir em seu patrimônio, não gastá-lo todo em busca de conquistas vãs. Equilíbrio e racionalidade. E os resultados logo vieram.

* O São Paulo é o único time a ter pelo menos um título brasileiro em cada década, desde que começou a ser disputado. Isso é equilíbrio.

* O São Paulo é o maior detentor de títulos da Libertadores no Brasil. Mesma coisa com Mundiais. E só não disputou finais do torneio continental nos anos 1960 (época da construção do Morumbi e da hegemonia do Santos de Pelé) e nos anos 1980 (embora tenha tido um esquadrão digno da honraria na ocasião, com os Menudos do Morumbi).

* O São Paulo, desde sua fundação, é o maior vencedor de campeonatos paulistas. Pode contar: quem ganhou mais, desde que o Tricolor entrou na competição? Somos nós, até com alguma folga.

* O São Paulo passou menos tempo na "fila", dentre os rivais do estado. Teve gente que ficou mais de duas décadas sem ganhar um Paulistinha que fosse...

* O São Paulo tem a melhor estrutura e mentalidade gerencial do Brasil, e não é de hoje.

* O São Paulo tem a torcida que mais cresce.

E a torcida do São Paulo é diferente. Aqui não tem um "bando de loucos".
Ninguém sai agredindo jogador ou técnico. A torcida se manifesta com a presença no estádio. Quando o time corresponde, ela vai ao estádio. Quando o time pode se virar sem ela, o jogo é menos importante ou a equipe não motiva o torcedor, não existe a obrigação de comparecer.

Dizem meus amigos não-são-paulinos que nós somos falsos torcedores, torcida de final. De fato, somos torcedores de final. Que fazer, se estamos sempre na disputa decisiva? Se todo ano, os jogos dos campeonatos são apenas "preliminares" para uma decisão que quase certamente protagonizaremos?

Por fim, quando todos os outros argumentos caem, os meus amigos não-são-paulinos dizem que o São Paulo é o "time do rabo". Ninguém tem mais sorte que o Tricolor, afirmam, e por isso nós vencemos tanto.

E eu pergunto: há alguma vergonha nisso? Se os Deuses do Futebol, lá em cima, decidiram que um time deveria ser mais favorecido pela sorte que os demais, eles devem ter tido suas boas razões.

E o São Paulo retribui, trabalhando com seriedade e espírito de luta, para que os Deuses do Futebol continuem a nos favorecer. Que saiam mais gols como o terceiro contra o Milan, em 1993, que Muller fez com o calcanhar sem saber que estava escrevendo mais uma página da gloriosa história tricolor. Que mais bolas como aquela, de Edno, no fim do jogo contra a Portuguesa no mês passado, batam caprichosamente no travessão e não entrem. Que os bandeirinhas continuem acertando ao marcar impedimento, como nos três gols anulados do Liverpool, em 2005. E que o São Paulo nunca vire as costas para a boa sorte, usando sua competência para definir os jogos em seu favor.

Tendo tudo isso posto, há de se perguntar: por que alguém poderia escolher torcer por outro time? Além da já referida "loucura", o que pode motivar esses meus amigos, inteligentes que são, a preferir outras agremiações?

Aí é que está, meus amigos. Ninguém escolhe racionalmente o time pelo qual vai torcer. É uma espécie de predestinação, em que o ambiente ao seu redor ressoa com sua personalidade, para definir qual será o seu clube do coração.
E nisso me sinto ainda mais feliz por ser são-paulino. Não somos os mais inteligentes ou competentes por nossa decisão; muito mais que isso, somos os predestinados. Os Escolhidos. A quem a felicidade, no futebol, nunca vai faltar.

Ou, como há muito já resumiu um famoso locutor esportivo, torcer para o São Paulo é uma grande moleza!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pega leve!