terça-feira, 7 de agosto de 2007

Bergman, Antoninoni e o eclipse de uma era do cinema 3/3

E o cinema se vai?
Apesar de que, certamente, possamos afirmar que Bergman e Antonioni permanecem vivos não só em suas obras, mas também na infinidade de diretores que eles influenciaram, o falecimento dos dois não pode ser tomado como um mero episódio na história do cinema.
O significado destas mortes pode ser exemplificado através de um dos mais belos filmes de outro representante da geração de Bergman e Antonioni. Em “La nave va” (1983), Federico Fellini contou a história de uma poética viagem marítima realizada para fazer o funeral de uma diva da ópera, às vésperas da I Grande Guerra, em 1914.
Tudo no filme serve como metáfora para “o fim de uma era” que se aproxima ao ritmo dos conflitos que se estabeleceram no interior do navio, se reafirma na constante presença da morte e martela a consciência com a certeza de que o mundo, tal qual se conhecia, está à beira do esfacelamento.
Um esfacelamento que, no filme de Fellini e tão inevitável quanto necessário. É um daqueles momentos de crise, no sentido mais literal da palavra: quando a renovação só pode surgir com a destruição do velho.
Em grande medida, tanto as obras Bergman e Antonioni quanto a coincidência em suas mortes, tem algo de “felliniano”. Símbolos de uma geração que cresceu durante uma guerra e produziu em um mundo agitado por revoltas contra o sistema e contra-ataques das elites, os diretores morreram num momento que, talvez, marque a maior crise (salvo raras e honrosas exceções) que o cinema já enfrentou desde seu surgimento, em 1895.
Uma crise que, em tudo, espelha a mundo atual: a submissão à lógica do mercado; a vulgarização, filme após filme, da vida e suas contradições; a propaganda descarada da ideologia dominante; a mediocritização; a padronização estética e a valorização do “espetáculo” em detrimento do conteúdo.
A coincidência na morte destes grandes dois mestres serve, de alguma forma, como uma alerta: o eclipse desta era clama pelo surgimento de algo novo.
Wilson H. da Silva, da redação

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